Eu preparei teu jantar, como todos os dias. O café fervia, espalhando seu aroma pela casa. Enquanto você, ao sofá, apertava um botão do controle remoto freneticamente, tentando fugir daquela já enfadonha programação da TV aberta, como se de repente fosse aparecer algo diferente ao voltar ao primeiro canal.
Eu te chamo: “O jantar está servido!”. Em resposta, nada ouço. Apenas vejo você chegar a sentar, assumindo o seu lugar de chefe da casa, à cabeceira da mesa. Com aquela cara aborrecida que você já pegou o hábito de carregar; desde, quando, não sei. Ainda me lembro do seu sorriso, que você ostentava quando nos conhecemos, e que matava de inveja todas as outras moças – sim, pois sabiam que você só tinha olhos pra mim.
Você nada fala, apenas emite um som ou outro que lembra um grunhido, impaciente. Ponho a sopa de abóbora em seu prato, em seguida no meu, e finalmente me sento para te acompanhar na refeição.
Eu penso em perguntar se a comida está saborosa, ou como foi seu dia. Calo-me, entretanto. Não quero te aborrecer após mais um dia de trabalho estressante. Você sempre gostou da minha comida; quando nos casamos, vivia elogiando e dizia que eu tinha mãos de fada. Por que agora seria diferente?
Pergunto: “Quer café?”. Você balança a cabeça, afirmativamente. Eu sirvo na sua xícara, e te indico uma bacia cheia de pãezinhos de queijo, os quais passei a tarde fazendo. Pensei: “Dessa vez acerto!” Engano meu; você apenas morde um e o deixa pela metade. Será que coloquei pouco sal? Mas, de todo jeito, nessa idade, não é bom comer muito sal mesmo. O médico disse na televisão que o risco de pressão alta aumenta quando se vai ficando mais velho, e a sua mãe já faleceu dessa doença...
Você termina o seu café e se levanta. Como sempre, atrapalhado! – esqueceu de colocar a cadeira de volta no lugar. Eu ajeito-a, após você sair. E vou arrumar nossa cama, para que você possa descansar quando o sono bater. Para só depois eu voltar a cozinha e lavar os pratos da refeição.