quinta-feira, 28 de julho de 2011

Monólogo de um amor falido

Eu preparei teu jantar, como todos os dias. O café fervia, espalhando seu aroma pela casa. Enquanto você, ao sofá, apertava um botão do controle remoto freneticamente, tentando fugir daquela já enfadonha programação da TV aberta, como se de repente fosse aparecer algo diferente ao voltar ao primeiro canal.

Eu te chamo: “O jantar está servido!”. Em resposta, nada ouço. Apenas vejo você chegar a sentar, assumindo o seu lugar de chefe da casa, à cabeceira da mesa. Com aquela cara aborrecida que você já pegou o hábito de carregar; desde, quando, não sei. Ainda me lembro do seu sorriso, que você ostentava quando nos conhecemos, e que matava de inveja todas as outras moças – sim, pois sabiam que você só tinha olhos pra mim.

Você nada fala, apenas emite um som ou outro que lembra um grunhido, impaciente. Ponho a sopa de abóbora em seu prato, em seguida no meu, e finalmente me sento para te acompanhar na refeição.

Eu penso em perguntar se a comida está saborosa, ou como foi seu dia. Calo-me, entretanto. Não quero te aborrecer após mais um dia de trabalho estressante. Você sempre gostou da minha comida; quando nos casamos, vivia elogiando e dizia que eu tinha mãos de fada. Por que agora seria diferente?

Pergunto: “Quer café?”. Você balança a cabeça, afirmativamente. Eu sirvo na sua xícara, e te indico uma bacia cheia de pãezinhos de queijo, os quais passei a tarde fazendo. Pensei: “Dessa vez acerto!” Engano meu; você apenas morde um e o deixa pela metade. Será que coloquei pouco sal? Mas, de todo jeito, nessa idade, não é bom comer muito sal mesmo. O médico disse na televisão que o risco de pressão alta aumenta quando se vai ficando mais velho, e a sua mãe já faleceu dessa doença...

Você termina o seu café e se levanta. Como sempre, atrapalhado! – esqueceu de colocar a cadeira de volta no lugar. Eu ajeito-a, após você sair. E vou arrumar nossa cama, para que você possa descansar quando o sono bater. Para só depois eu voltar a cozinha e lavar os pratos da refeição.

domingo, 17 de julho de 2011

O ser/sentir humano

Sinto uma ansiedade sem motivo. Sensação de esperar algo, quando não há nada por chegar – ou pior, sem saber o que espero que tanto me aflige. Sensação de medo e tensão pelo que este por vir, mesmo pisando e tateando pelo chão mais firme; embora esteja tudo escuro.

Não, a gente não vê o que há ao nosso redor. No máximo sombras, que não só não mostram o real como muitas vezes nos confundem. Porque o que nos guia na verdade são os cheiros, os sons; vez ou outra arriscamos tocar ou sentir gostos. Mas nada está óbvio e claro.

Mas internamente algo grita que se tente, que se arrisque até encontrar aquilo que te satisfaz – e faz – humano. Comumente chamado de felicidade. Eu chamo de essência. Pois felicidade é encontrar – e conhecer – a si mesmo, e te fazer sentir que você faz parte do mundo. Para alguns é a família; para outros, trabalho; para outros, poder; para outros, é ajudar os outros; para outros ainda, é preciso sentir-descobrir que faz parte de um plano maior. Pouco importa – todos buscamos esse algo que nos torna nós mesmos, não importa o quê.

Só não se pode deixar de buscar esse “o quê”. Porque parar nos deixar sem sentir nada, apenas preso num cantinho dessa escuridão que nos atordoa – e nos devora – e nos deixa com cada vez mais medo. Porque nada é mais assustador que o desconhecido.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Laços frouxos

“É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã, porque se você parar pra pensar, na verdade, não há.” Esse trecho da música “Pais e Filhos” de Legião Urbana, podem dizer que é o clichê dos clichês, já falado e já batido. Eu concordo. Mas justamente por isso a gente esquece isso, que não é óbvio por ser idiota, mas por ser tão fundamental para a nossa felicidade. E mesmo assim, cada vez que ouço, me dói pensar como não seguimos à risca.

Sim, eu sei, a gente se decepciona, vivemos em mundo frio cheia de pessoas egoístas e que querem tirar proveito de tudo, e nem sempre é possível identificá-las. Mas amar não significa fazer tudo por alguém, se submeter, sabe? Até porque o amor próprio deve vir em primeiro lugar. Amar é querer o bem, é ajudar, é estar do lado mesmo na distância. É estar disposto a compartilhar momentos, as alegrias e as tristezas. É evitar cair uma lágrima, e se não for possível, ajudar a secá-las. É não abandonar. É não deixar que a pessoa se afaste. É se certificar de que está tudo bem.

Eu não sei em que momento eu errei, eu que momento mudei, e deixei que o tempo me afastasse de pessoas que amo. E que hoje não estão mais próximas de mim como antes, mas que estão na minha memória, e tudo o que foi vivido não será mudado. É difícil perder pessoas sem razão, apenas porque você deixou que a vida fizesse isso. Tenho amigos eternos, que sempre estarão comigo, e sinto verdadeira alegria ao me deparar com eles. Abraços afetuosamente, sorrio com sinceridade, e parece que estamos de volta à nossa melhor época. Mas sinto saudade pela presença. Porque quando esses amigos não estão, eu esqueço. Assim como esqueço tudo o que não está no meu cotidiano, nessa mentalidade prática do nosso século – e que também contribui para tudo isso. Mas encontrar esses amigos e reviver o passado é constatar que eles não estão mais no meu presente. É ver como nossas vidas tomaram rumos diferentes, que não sou a mesma garotinha ou adolescente de antes. E que não estávamos compartilhando tudo isso. Simplesmente, caminhamos em direções diversas, e o curso da vida que faz com que continuemos acaba por nos convencer que aquelas pessoas não fazem mais parte do nosso mundo. Como se o amor fosse objetivo.

E eu queria, de verdade, mudar isso. Eu queria encontrar exatamente o ponto em que erramos, em que nos afastamos. Quando começamos a considerar nossa rotina prioridade e deixamos de nos importar uns com as vidas dos outros como se uma fizesse parte da outra. Porque todos nós estamos ligados. Mas estamos trocando os laços do afeto pelos das obrigações, das conveniências, das rotinas, do simples convívio social.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

Apenas mais um adeus.

Foi naquela fatídica tarde de domingo que você me disse adeus. Era noite, o céu estava limpo, sem nuvens. O tempo estava ótimo, quase que zombava de mim, sem compor o cenário do drama mexicano que eu sentia em mim. Eu estava maquiada, bem arrumada, de cabeça erguida, mantendo aquele porte de sempre. Lembrando sempre do que um velho amigo falou, de que eu nunca deveria abaixar a cabeça para nada nem pra ninguém, e embora eu não o veja mais e ele sequer se lembre disso, eu tenho seguido à risca.

Não, você não me deu motivos ou explicação. Simplesmente cansara de mim, eu não servia mais. Não que eu não fosse mulher suficiente pra você, mas por isso mesmo. É preciso um ponto negativo, algo que balance, algo que mostre que a gente deveria não querer, pra que a gente se convença que é sentimento verdadeiro, forte. Porque no fundo a gente gosta é do perigo, do que nos tira o ar e nos faz ter medo de perder o juízo.

Seus olhos não demonstraram nada, apenas o vazio por aquilo que não devia ter um fim. Porque a gente não se acostuma com finais. Mas o que é a vida se não um eterno fim e começo – e vice-versa? E você beijou minha testa, em demonstração de respeito, e foi embora, antes que o medo do futuro e voltássemos atrás. Ou de que a máscara da impassibilidade caísse e tudo se tornasse mais doloroso. Você se foi, eu saí desorientada pela rua, gritando um grito surdo no meu interior, rasgando minha roupa, suplicando que ainda sou e sempre serei tua.